domingo, 20 de setembro de 2009

A poesia de todos nós

(*) João Gabriel Bressan

Hoje vou fazer diferente. Falo de poesia.

A poesia nos surpreende, nos incrimina, nos dissocia, nos reconhece. Fica sem sentido, mas não sem sentimento.

A poesia pode ser aquilo que quisermos e fizermos dela: um filme surreal, uma história presente, uma vida latente, uma dor latejante. Poéticos sofrem ao contrário.
De versos e palavras, de sílabas esculpidas, de significados disfarçados, a poesia remonta nossas virtudes, altera nossas evidências, sucumbe as aparências que se escondem em verdades trincadas.

O passaporte para uma viagem sem destino, sem tempo contado e razões incorporadas, está na poesia, que, embora aprisionada aos nossos turvos olhares, liberta o coração e a imaginação de forças traumatizantes, experiências dramáticas, insólitas. Potencialmente avassaladora, a poesia nos confronta.

Sedimentada em aprendizados simultâneos, onde a fronteira do real não estabelece limites com a ilusão, a poesia é uma das poucas invenções da mente humana que não transgride regras. Prejuízos ela não dá. Preço ela não cobra. Espelho intelectual de vontades intermináveis, a poesia é o reflexo do desconhecido que mora dentro de nós.

Músicas são o que são e fazem o sucesso que fazem, porque são poesias cantadas que tornam a alma barulhenta. E não adianta recorrer ao silêncio. Pois até este terreno de som cego a poesia alcança, com o sublime poder de provocar uma devassa.

Penso, defendo e insisto, que a poesia deveria ser obrigatória. Não no sentido de imposição por um sistema. E sim na condição de que as pessoas se sentissem completamente a vontade em ter na rotina engarrada, a poesia que, afinada com a realidade íntima de cada um, pudesse desembaraçar angústias e aliviar dores.

Consistente, controversa, diversa. A poesia nos assume e nos faz sumir. Dizer que a gente se perde ou se encontra é uma questão de ponto de vista. O inegável e notável porém, está na personalidade que a poesia tem conosco. Acima de tudo, a poesia é sincera. No seu mais puro e fiel significado.



(*) João Gabriel Bressan é jornalista